segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Parto

Apesar do trânsito, chegamos rapidamente. Por volta das 20h, quase em frente ao hospital, quando a bolsa estourou. Eu estava sentada sobre uma toalha, que ficou encharcada. Às 20h02, exatamente, chegamos ao hospital. Ainda dentro do carro, coloquei a mão lá embaixo e, surpresa, senti a cabeça e o cabelinho do bebê coroando. “Tá nascendo, tá nascendo”, gritei. Tudo isso na porta de entrada do hospital, com o carro provisoriamente parado na rampa de acesso para deficientes.

Enquanto a Cris me segurava, o Ri tentava providenciar uma maca junto ao segurança e às recepcionistas. Segundos depois, chegou uma cadeira de rodas. Com muita dificuldade, e agora com cuidado triplicado para não esmagar a cabecinha do bebê, consegui sentar. Uma recepcionista me levou para dentro, junto com a Cris, enquanto o Ricardo entregava o carro ao manobrista.

Para minha surpresa, os gritos na porta do hospital e a informação de que já estava sentindo a cabecinha do bebê saindo não foram suficientes para convencer o pessoal da recepção sobre o estágio do parto. Pasmem: naquele estado, ainda queriam que eu passasse novamente pelo setor de admissão. Ao perceber, botei o pé na porta e disse que não dava tempo, que o bebê já estava ali. Disse que já tinha passado pela admissão poucas horas antes. Encontraram meu prontuário e me liberaram dessa burocracia.

Sala de parto? Nada. Depois de correr por alguns corredores e subir por um elevador, queriam porque queriam que eu fosse para a sala de pré-parto, onde as gestantes aguardam sua vez de ir para a sala de parto. Dessa vez foi a Cris que engrossou. Disse que o bebê já estava ali e que era preciso ir direto à sala de parto.

A própria Cris notou que a sala de parto Delivery (o nome é estranho, mas é assim mesmo) estava livre. Fomos direto para lá. Ao entrar, uma enfermeira pediu para eu sentar na maca. Eu recusei: “Não dá. Se sentar, vou esmagar a cabeça do bebê”, repeti. Como eu já conhecia a sala e seus equipamentos, virei para a Cris e, quase que instintivamente, disse: “Cris, pega o banco de cócoras, rápido, vai nascer”. A Cris pegou rapidamente, eu sentei e disse: “Segura, vai cair”. Foi o tempo suficiente apenas para a Cris colocar uma luva. Às 20h08, o bebê escorregou. Vupt! Foi como um sabonete que escapa da mão. Eu fiquei muito emocionada, mas ao mesmo tempo sentia um lamento, que era o fato de o Ri não estar ali na hora que o bebê nasceu. Ele estava “preso” na recepção, ditando para as funcionárias o nome, o CPF e o plano daquela grávida que, minutos antes, passou berrando pelo hall.

Toda a dor passou no instante do nascimento. E eu tremia de emoção. Tinha calafrios. Não vi o momento que a dra. Andréa entrou na sala, mas depois ela contou que presenciou tudo, a cerca de um metro da Cris. Ao perceber a urgência da situação, e reparar que tudo estava devidamente encaminhado, teve a sensibilidade de dar um passo para trás “para não atrapalhar o que a Cris estava fazendo”. Eu achei que isso foi de uma sabedoria enorme e sou muito grata a ela por esse gesto de humildade.

Quando o Ricardo achou a sala de parto e entrou, ficou meio abobado. Ele me viu sentada num pequeno banco, segurando um bebê na perna, toda suja de sangue, com o vestido jogado no chão. Ao lado, a maca limpinha e esticada. Ele veio ao nosso encontro para um abraço muito emocionado. Nessa hora, o bebê “miava”, todo encolhidinho, tentando pegar meu peito, como se já sentisse o cheirinho do colostro. Foi então que eu perguntei: “Alguém viu o sexo?” A Dra. Andréa se aproximou e levantou o cordão, que estava passando entre as pernas do bebê. Era uma menina. A nossa fadinha Tarsila, exatamente como um sonho que eu tive.

Ficamos ali uns dois ou três minutos curtindo os primeiros segundos da Tatá na atmosfera, olhando para a cara dela, fazendo os primeiros carinhos. O cordão foi cortado pelo Ricardo enquanto eu ainda estava no mesmo banquinho.

Estávamos nos deliciando com nossa menininha, que nasceu moreninha, ligeiramente cabeluda e já tentava mamar, quando, de repente, o segundo “ploft”: eu pari a placenta inteirinha, que caiu em cima do meu pé, ainda calçando uma sandália rasteirinha que nem tive tempo de tirar.
No meu plano de parto, pedi para que a dra. Andréa chamasse um pediatra neo-natal quando estivesse no expulsivo. Infelizmente, como tudo foi muito rápido, não deu tempo de chamar ninguém e a equipe do São Luiz aspirou a Tatá.

A dra. Andréa conseguiu falar com a dra. Nina, pediatra, que apareceu rápido. Ao chegar, ela conseguiu evitar que pingassem o colírio de nitrato de prata. Em seguida, ensinou o Ricardo a dar o primeiro banho da Tarsila, num balde branco, ao meu lado. Nesse instante, eu já estava toda serelepe, filmando e tirando fotos dos meus amores. A dra. Nina também me ajudou a colocar a Tarsila para mamar. O bebê pegou meu peito direitinho já na segunda tentativa.

Costumo dizer que a Tarsila foi muito generosa comigo em me proporcionar um parto tão rápido. Acho que foi o presente que ela nos deu em retribuição a termos deixado que ela viesse no dia e hora em que estivesse 100% pronta. Chegamos ao hospital às 20h02. O ticket do estacionamento é de 20h06. O protocolo de entrada no hospital feito pelo Ricardo na recepção marca 20h07. A Tatá nasceu às 20h08. A nossa meninona chegou pesando 3.620 gramas e medindo 51 centímetros. O apgar foi 8-10.

Às 20h25, eu já estava telefonando para Curitiba para contar a novidade para minha mãe. Ela, meu pai e minha irmã vieram para São Paulo, de carro, no mesmo instante. Chegaram à maternidade por volta das 2h30 da madrugada. Como fiquei feliz com a presença deles ali.

Já a minha sogra não acreditou quando o Ri ligou logo depois do parto e contou que a Tarsila tinha acabado de nascer. Era 1º de abril, ele sempre foi muito brincalhão, e realmente foi um pouco difícil convencê-la por telefone.

Durante os três dias de hospedagem no hospital, optamos por ficar com a Tarsila no quarto o tempo todo. Nem precisaria ficar tanto tempo, mas achamos melhor passar um dia a mais para descansarmos, sempre junto dela.























2 comentários:

  1. estou aqui, em prantos, com seu relato de parto. muito lindo. parabens. pelo parto e pela filhota linda.

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    1. Obrigada! Estou em dívida com os leitores em relatar meu segundo parto, da Cecília, que já está com 1 ano e 4meses. Mas a correria com duas é tanta que ainda não consegui.

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