segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Trabalho de Parto

Ao acordar na madrugada do dia 1º de abril para ir ao banheiro, percebi que estava com cólicas. Como comemorei aquelas cólicas. Não falei nada para meu marido e dormi novamente. Por volta das 7h, acordei novamente com aquela “dorzinha querida”. Que felicidade. Pelo jeito, meu bebê resolveu dar as caras. Às 7h20, acordei meu marido e começamos a marcar os intervalos e as duração das contrações, como a Cris e a dra. Andréa tinham instruído. 7h28, 7h40, 7h46... Foram 7 contrações em uma hora, a metade do número indicado pela médica para seguir para o hospital.

Nesse ritmo, começo a me arrumar para ir ao hospital São Luiz para fazer exames que já estavam agendados: um cardiotoco e um ultrasson para verificação do líquido. São os procedimentos indicados após a 41ª semana. Por precaução, resolvemos levar as malas da maternidade. Vai que...

Do carro, ligo para minha doula, Cris Balzano, para avisar o que está acontecendo. Descrevo as contrações e, por telefone mesmo, ela me ajuda a respirar de um jeito mais confortável. Não dá para saber ainda se é TP ou pródromos (falso TP). Pela manhã, o ritmo médio era de 11 contrações/hora. A Cris e a dra. Andréa acompanham por telefone.

No hospital, o ultrasson e os exames clínicos deram bons resultados, mas o mesmo não ocorreu com o desagradável cardiotoco (um cinturão apertando minha mega-barriga). Foi o primeiro estresse. Como o bebê estava quietinho, aparentemente dormindo, a médica quis acionar uma buzina de caminhão para fazê-lo mexer. Não autorizei e e ela ficou surpresa com minha “rebeldia”. Digamos que ir contra uma opinião médica no meio de uma contração não é algo exatamente fácil de fazer. Pior ainda quando a médica reage mal. E foi nesse momento que meu trabalho de parto foi ficando tenso e desconfortável. Argumentei que poderia comer um chocolate, pois a glicose provocaria o mesmo efeito. Ela disse que não tinha esse recurso entre os padrões do exame. Como alternativa, colocou um objeto que emitiu uma vibração em minha barriga. Refizemos o teste, mas o resultado não foi bom novamente. Ela deu nota 7 para o exame.

Nesse instante, eu e o Ri ficamos um pouco preocupados. Eu sabia o quanto o bebê mexia, mas o fato é que, no exame, ele não mexeu. A médica do hospital ligou para a dra. Andréa e me orientaram a repetir o exame após o almoço. Almocei, comi meio Diamante Negro (guardei a outra metade para comer durante o exame se o bebê ainda não estivesse mexendo) e, quase duas horas depois, fui repetir o teste. Pronto, deu certo: como esperado, a glicose acordou o bebê. Avisamos a dra. Andréa às 14h30, mas continuamos ali, esperando emitirem os resultados impressos.

A essa altura, eu já estava muito cansada e contrariada. Planejei sair do São Luiz umas 10h30, mas já eram quase 15h. Comecei a pensar o quanto queria estar em casa, pois se eu soubesse que o TP engrenaria mesmo, não tinha porque fazer aqueles exames todos. Às 15h30, chorei pela primeira vez. De dor e de raiva de estar ali até aquela hora. Aborrecida, resolvi partir. Quando fui avisar “estou indo”, o exame ficou pronto. Haja paciência! Só que o alívio durou poucos segundos. Logo em seguida, ainda dentro do hospital, meu marido percebeu que eu já estava com 14 contrações por hora. Era o índice indicado para seguir para o hospital, não para deixá-lo. A dra. Andréa sabia o quanto eu queria ir para a casa, mas, para liberar de vez, pediu um último exame, o da verificação da dilatação. Ela disse que se eu estivesse com mais de 4 cm, era melhor ficar por lá. Se tivesse com menos de 4 cm, seria melhor ir para a casa, mesmo que tivesse que tivesse que voltar poucas horas depois.

Fui encaminhada para a admissão do hospital, como se estivesse chegando em trabalho de parto. Lá, fui submetida a mais um cardiotoco - o terceiro do dia - e ao exame de toque. A dor que senti ao deitar na maca da admissão foi a pior da minha vida, sem dúvida. A maca era íngreme, o que tornava as contrações ainda mais doloridas. Mas pior foi descobrir que ainda estava com apenas 1 cm de dilatação, o mesmo do dia anterior. Toda aquela dor, e eu não tinha evoluído nada? O que seria, então, 4 cm ou 5 cm? E 7 cm? Só mais tarde fui perceber o óbvio: a evolução da dor não segue o ritmo aritmético da dilatação. Entrei no banheiro da sala de admissão e chorei. Chorei muito, não só por sentir dor, mas por nervoso mesmo. Tive dó de mim. Estava muito cansada após seis horas de exames e esperas. No banheiro, enquanto chorava sentada, saiu uma gosma, o que parecia ser o tampão. Ao me ver chorando, a obstetriz da admissão fez um comentário bastante infeliz: “Nossa, e você vai mesmo querer ter parto normal?”.

Ligamos para a dra. Andréa e ela disse que era melhor mesmo ir pra casa, nem que fosse apenas para relaxar e voltar duas horas depois. Eram 17h. Avisei a Cris Balzano que estávamos saindo do hospital naquele momento e combinamos que ela iria me encontrar em casa.

Ao entrar em casa, às 17h30, fui direto ao banheiro. Uma das coisas que eu mais queria fazer o dia todo era o número 2. Já estava me sentindo um pouco melhor de estar em casa. Depois disso (ou melhor, daquilo), entrei no banho. E as contrações e dores ali, indo e vindo. Eu me pendurava na janelinha do banheiro a cada contração. Dores lancinantes. Até que a Cris chegou, por volta das 18h. Lembro claramente da última contração antes de sua chegada e das contrações a partir do momento em que ela já estava ali. Ela me ajudava a respirar e a me controlar melhor. A dor não passou, mas eu passei pela dor de uma forma diferente. Por sugestão dela, sentei num banquinho embaixo do chuveiro. Mas não quis ficar muito tempo na água. Eu tinha pressa e precisava sair dali. Fui para a cama, mas também não conseguia deitar. Então, ela encheu a bola. Fiquei de bruços na bola, enquanto ela massageava minha lombar e entoava palavras de equilíbrio. Foi bom ouvi-la e sentir o cheiro do óleo da massagem.

Enquanto ela cuidava de mim, meu marido foi despachar algumas coisas de trabalho.

Fui fazer xixi e ploft. Caiu mais um pouco do tampão. De repente, saiu também mais um coágulo gigante de sangue. Volto para a cama para medir a dilatação. A Cris constatou 4 cm fora da contração. Oba! Ela perguntou ao Ricardo se a gente preferia ir para o hospital ou ficar ali. Como ele disse hospital, ela nem chegou a falar comigo sobre a hipótese de ficar em casa. Hoje, sei que ela não quis nos preocupar, mas, ao examinar minha dilatação, ela percebeu que o TP estava evoluindo de forma muito acelerada. Mesmo assim, ela disse, com muita calma: “Pessoal, é melhor irmos para o hospital agora então, tudo bem?”

Todas as nossas coisas já estavam no carro. Na garagem, percebemos que o Ri tinha esquecido a chave do carro. Isso era um bom sinal: indício de que tudo estava dentro do normal, hehehe.

A Cris ficou na garagem comigo. Achei que ia nascer ali mesmo. Que vergonha dos vizinhos que passaram de carro por nós, mas não segurei os gritos, não. Saímos de casa umas 19h25, com a Cris no carro de trás, nos seguindo. Às 19h30, liguei para a minha mãe no intervalo de uma contração. Disse que estava em trabalho de parto, a caminho da maternidade. Disse ainda que a amava e pedi para ela rezar por nós. Quando ia começar outra contração, desliguei, porque não queria que ela ouvisse meus gritos. Minha ligação durou exatos 30 segundos, mas o suficiente para me dar alívio por ter ouvido sua voz e recebido suas orações.

No caminho para o hospital, a Cris dava umas monitoradas pelo celular. Doía muito. O Ri também me “doulou”, colocou o CD de som de golfinhos que eu planejei colocar na hora do TP, passava a mão na minha cabeça, segurava firme minha mão e desviou de todos, todos os buracos do caminho. Meus gritos se transformaram em sons viscerais, que eu nunca tinha ouvido sair de mim. A cada contração, eu gritava um mantra que dizia: “Abre, abre, abre, abre, abre.... solta, solta, solta, solta, solta”.

Abri tanto meu corpo, soltei-me tanto, que quando a gente passou pela rua São Gabriel, falei para o Ricardo: “Ri, estou passando pelo círculo de fogo”. Ele disse: “O quê? Calma, amor, quando chegar lá você precisa se alimentar, pois você só almoçou e o parto pode levar mais umas 10 horas”. Eu disse: “Ri, não vai dar tempo. Estou com medo. Tá nascendo. Tá coroando!”. Eu tinha lido em vários relatos de parto essa sensação de passar pelo círculo de fogo, um nome perfeito para o que eu sentia. É como uma roda queimando o períneo e a vagina, as entranhas se abrindo, algo pressionando forte lá embaixo. Uma vontade imensa de fazer de novo o número 2.

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